Cultura de Segurança dos Alimentos: o que o caso Campbell’s revela sobre falhas éticas e riscos nas empresas

A cultura de segurança dos alimentos tem ganhado destaque mundial porque, cada vez mais, percebe-se que não basta dominar processos técnicos: é preciso que pessoas ajam com ética, coerência e responsabilidade. E poucos casos ilustram isso tão bem quanto o episódio recente envolvendo a Campbell’s, gigante americana do setor alimentício.

Quando a cultura falha, o produto falha.

A empresa demitiu um de seus executivos após declarações discriminatórias e ofensivas sobre os próprios produtos. Ele afirmou que a Campbell’s “vende comida ultraprocessada para pessoas pobres” e que jamais consumiria aquilo que supervisiona.

Essa fala expõe um problema muito maior: quando a liderança não acredita no produto, a cultura organizacional está comprometida.

Isso revela que a cultura de segurança dos alimentos não é um manual, nem uma frase bonita na parede. É comportamento — e ele começa na liderança.

Ética, moral e o impacto direto no Food Safety

Cultura é aquilo que um funcionário faz quando ninguém está olhando.

É o que líderes toleram, reforçam ou ignoram.

É o que se repete ao ponto de virar norma.

Anos atrás, ao realizar uma auditoria em uma indústria de laticínios, encontrei um exemplo perfeito de como falhas culturais começam: colaboradores estavam reutilizando uma água gerada no processo de secagem — sem estudo, sem validação, sem segurança.

A ideia veio de alguém “influente”, que acreditava que aquilo economizaria custos.

Esse improviso virou rotina.

Rotina virou hábito.

E o hábito virou risco.

Para encerrar a prática, pedi que a diretoria bebesse aquela água.

Nenhum deles aceitou. E a pergunta final foi inevitável:

“Se vocês não bebem, por que acham aceitável incluir isso na produção?”

Processo interrompido. Cultura resgatada. A cultura de segurança dos alimentos exige coerência.

Uma cultura sólida depende de:

  • sistemas e processos, não slogans
  • líderes formais e informais atuando com coerência
  • comportamentos que reforcem segurança antes de conveniência
  • eliminação de atalhos que, se ignorados, viram normas

Se a cultura não é construída diariamente, ela é substituída por comportamentos que ninguém gostaria de admitir.

Por que isso importa para o Food Safety?

Porque produto seguro não é só técnica — é cultura.

Quando a cultura é fraca:

  • more se normalizam
  • desvios passam despercebidos
  • decisões incoerentes entram para a rotina
  • a confiança interna e externa desaparece

Uma empresa pode ter laboratórios de ponta, certificações e auditorias… mas, se a cultura é frágil, nenhuma ferramenta impede um escândalo.

O caso da Campbell’s reforça isso:

não existe cultura de segurança dos alimentos onde a liderança não respeita o próprio produto.

A segurança dos alimentos depende de confiança, ética e responsabilidade e esse caso acende o alerta:

Como está a cultura da sua empresa?

Ela existe na prática ou só no discurso?

Mirella Polato
Mirella Polato