QUATRO CASOS, UMA MESMA LIÇÃO

QUATRO CASOS, UMA MESMA LIÇÃO

QUATRO CASOS, UMA MESMA LIÇÃO

ATENÇÃO: Um alerta global sobre segurança de produtos

Nas últimas semanas, diferentes países registraram uma nova onda de recalls, proibições e ações de fiscalização envolvendo desde alimentos até saneantes. São eventos que, à primeira vista, parecem desconectados: um sabão líquido contaminado no Brasil, um picolé com ingrediente não autorizado, um lote de leite com fluido de limpeza nos Estados Unidos e uma operação de falsificação de alimentos na Ucrânia.

QUATRO CASOS, UMA MESMA LIÇÃO: O PAPEL DA CULTURA NA PREVENÇÃO DE RISCOS

Contudo, quando analisamos tecnicamente cada caso, emerge um padrão claro: os riscos são variados, mas a causa raiz remete sempre às pessoas: suas decisões, falhas, escolhas e valores.

E essa é a linha que divide empresas responsáveis de operações imprudentes ou criminosas.

A seguir, entenda cada caso e o que eles revelam sobre gestão de risco e cultura de segurança.

Recall voluntário de sabão líquido contaminado com Pseudomonas aeruginosa

A Ypê, após análises internas de rotina, detectou Pseudomonas aeruginosa em alguns lotes de seus produtos Lava Roupas Líquido. A empresa comunicou a Anvisa e iniciou um recall voluntário, reforçando o papel da autovigilância como ferramenta de proteção do consumidor.

A bactéria é um patógeno oportunista capaz de causar infecções que podem ser graves, especialmente em pessoas imunocomprometidas.

Os lotes afetados incluem produtos das linhas:

  • Ypê Express – lotes 170011, 220011, 228011, 203011, 181011, 169011 (duas ocorrências), 205011 e 176011
  • Tixan Ypê – lotes 254031 e 193021
  • Ypê Power Act – lotes 190021, 223021 e 228031

Lição deste caso:
Este é um exemplo de falha de processo, mas com resposta rápida, transparente e alinhada à responsabilidade sanitária.

Houve falha: sim! Uma detecção tardia, mas não podemos negar a demonstração da empresa do seu compromisso com a segurança dos consumidores, anunciando o Recall assim que detectou a não conformidade.

Picolé e paçoca com creatina proibidos pela Anvisa

A Anvisa proibiu a produção e comercialização de dois produtos:

  • Picolé da J M J RE Torres Indústria de Alimentos (Naturralle Ice)
  • Paçoca da marca Senhora Paçoca

O motivo: presença de creatina, um ingrediente não autorizado para uso em alimentos segundo a legislação sanitária brasileira. O aditivo é permitido exclusivamente em suplementos alimentares destinados a adultos, com regras específicas.

A consulta ao dossiê da Anvisa confirma que a decisão se baseou na falta de conformidade regulatória e no risco potencial pela adição de uma substância não prevista para consumo infantil — grupo que frequentemente consome esses produtos.

Lição deste caso:
Aqui vemos falta de conhecimento técnico, ausência de controle regulatório ou negligência no desenvolvimento do produto. O que não deve acontecer quando uma empresa resolve produzir alimentos. As pessoas envolvidas DEVEM conhecer as regras que reagem a sua atividade e segui-las.

Leite contaminado com fluido de limpeza nos Estados Unidos

A FDA publicou o recall da empresa Prairie Farms, referente a um lote de leite desnatado em galões produzido em Dubuque, Iowa. O motivo: contaminação por fluido de limpeza, identificada após consumidores relatarem sabor e odor anormais.

De acordo com o comunicado oficial da FDA, o produto foi distribuído para lojas Woodman’s nos estados de Illinois e Wisconsin. O recall foi imediato.

Casos como esse revelam uma vulnerabilidade sensível: a etapa de limpeza e sanitização pode se tornar um ponto crítico de contaminação química quando falha.

Lição deste caso:

Mais um exemplo de falha operacional, onde um erro de limpeza, enxágue ou teste de resíduos levou à contaminação de um produto amplamente consumido.

Operação internacional desmonta fábrica clandestina de alimentos falsificados na Ucrânia

Reportagem do Food Safety News detalha a ação das autoridades ucranianas, que destruíram um esquema ilegal de produção de alimentos falsificados em Kyiv. Produtos eram fabricados em ambiente insalubre, embalados com rótulos que imitavam marcas legítimas como Bonduelle, Veres, Aquamarine, H.J. Bruggen KG, entre outras.

Os alimentos eram produzidos em oficinas subterrâneas, sem qualquer controle sanitário, com ingredientes desconhecidos e destinados à comercialização como se fossem produtos originais.

Lição deste caso:

Aqui não estamos tratando de falha — mas de crime.
Falta absoluta de ética, integridade e respeito ao consumidor.

O que esses quatro casos têm em comum?

À primeira vista, nada:

  • uma bactéria,
  • um ingrediente proibido,
  • um fluido de limpeza,
  • uma fraude deliberada.

Mas, tecnicamente, tudo.

Quando analisamos com profundidade, percebemos que:

Os riscos estão presentes em toda a cadeia de produção, em qualquer segmento.

Do saneante ao alimento infantil, passando pelo leite e chegando às tentativas criminosas de falsificação.

Os perigos são variados, mas não surgem do nada.

Eles sempre derivam de alguma decisão humana:

  • falhas no monitoramento,
  • ausência de validação,
  • desconhecimento da legislação,
  • desatenção no processo,
  • ou, no pior cenário, intenção de enganar.

O ponto de convergência é sempre o mesmo: as pessoas.

São elas que planejam, executam, validam, conferem, autorizam, higienizam, liberam lotes… ou escolhem violar regras.

 

A diferença entre empresas não é o risco é a cultura

Há um abismo gigantesco entre:

  • uma empresa que identifica um problema e faz um recall voluntário,
  • outra que deixa falhas básicas contaminarem o produto,
  • outra que não compreende ou ignora a legislação,
  • e outra que deliberadamente falsifica alimentos.

Esse abismo tem nome: cultura.

Cultura de qualidade.
lass=”yoast-text-mark” />>Cultura de segurança dos alimentos.<br class=”yoast-text-mark” />>Cultura de integridade.
>Cultura de responsabilidade.
>Cultura de fazer o certo quando ninguém está olhando.

Empresas que investem em:
✔ pessoas,
✔ treinamento,
✔ liderança,
✔ processos bem definidos,
✔ e vigilância ativa,

são as únicas capazes de prevenir, corrigir e agir com responsabilidade quando algo sai do esperado.

 

Para 2026, o maior investimento é em Cultura de Segurança dos Alimentos

Os casos acima não são exceções, são reflexos de uma realidade.
O risco nunca é zero.
Porém pode ser gerenciado, reduzido, monitorado e prevenido quando há uma cultura forte orientando decisões.

Cultura não é palestra anual.
Não é quadro na parede.<br />Não é manual esquecido na gaveta.</p>

Cultura é comportamento diário.
>É coerência.
>É vigilância.
>É integridade.
>É liderança.

E, no fim, a pergunta mais importante não é:
“Qual é o risco?”
mas sim:
“Quem está cuidando para que ele não aconteça?”

Quando a Cultura Real Aparece: O Caso Campbell’s e o Risco de Culturas Paralelas Dentro das Empresas

 

REFERÊNCIAS

Lava roupas Ipê recolhido do mercado.

Proibição de venda e Recall de doce de amendoim com creatina. 

Proibição de venda e Recall de picolé com creatina.

Recall de Leite com fluido de limpeza. 

Falsificação de alimentos na Ucrânia. 

 

Keli Lima
Keli Lima

CEO da BR Quality e Estilo Food Safety, especialista em Qualidade e Segurança dos Alimentos. Atua como consultora, mentora e auditora líder em normas de Food Safety e ESG.