Biofilmes de Listeria são particularmente perigosos

Biofilmes de Listeria são particularmente perigosos

Muito se sabe sobre o patógeno alimentar Listeria monocytogenes e sua capacidade de formar biofilme, o fato é que esse muito, ainda é pouco, quando ao assunto é microbiologia e uma nova pesquisa, publicada na revista Science Direct demonstra que, ao formar o biofilme, a Listeria não apenas se torna mais resistente, mas também multiplica sua capacidade de colonização, elevando o risco de contaminação em ambientes de produção.

Biofilmes de Listeria são particularmente perigosos

O patógeno alimentar Listeria monocytogenes é reconhecido pela sua capacidade de causar listeriose, doença grave com elevada taxa de letalidade, especialmente em populações vulneráveis. Desse modo, em ambientes industriais de alimentos, a persistência de L. monocytogenes está fortemente associada à formação de biofilmes — agregados microbianos aderidos a superfícies, embebidos numa matriz de substâncias poliméricas extracelulares (EPS) que favorecem a resistência a agentes de limpeza/desinfecção.

Ademais, a formação de biofilmes em superfícies de contato com alimentos constitui um risco contínuo de contaminação cruzada e de recolonização, sendo por isso uma preocupação central em segurança de alimentos e gestão de higiene nas fábricas.

O que diz este novo estudo?

De acordo com Bombelli et al. (2025), foram realizadas sucessivas passagens de L. monocytogenes em ambiente de colonização de superfícies plásticas, com ciclos repetidos de adesão, crescimento em biofilme, dispersão e recolonização de nova superfície. Desse modo, após estes ciclos, isolou-se variantes evoluídas (EV) que apresentavam produção de biofilme até sete vezes maior do que a linhagem ancestral (AN).

Posteriormente, os autores realizaram análises proteômicas e genômicas para identificar diferenciais de expressão proteica e mutações genéticas. Além disso, efetuou-se engenharia de mutantes para testar funcionalmente o papel desse gene no fenótipo para forte capacidade de formação de biofilmes, e foram examinadas características como a hidrofobicidade da superfície celular, adesão, e formação de biofilme.

Os principais resultados relatados por Bombelli et al. (2025) são:

  • As variantes evoluídas (EV) da L. monocytogenes apresentaram até sete vezes mais produção de biofilme do que as linhagens ancestrais (AN).
  • Os autores sugerem que a capacidade adaptativa de L. monocytogenes para desenvolver um fenótipo de biofilme mais resistente em superfícies plásticas sob ciclos repetidos de colonização pode mimetizar suas adaptações em ambientes da indústria de alimentos, onde ocorre persistência e recolonização contínua.

Adaptação evolutiva e biofilme

Os achados de Bombelli et al. reforçam o conceito de que L. monocytogenes não apenas pode formar biofilmes, mas pode evoluir para produzir biofilmes mais densos e persistentes em ambientes com desafios repetidos de colonização-dispersão. Isso tem implicações importantes para ambientes de produção de alimentos, onde ciclos de limpeza, secagem e recolonização são contínuos.

Segundo os pesquisadores, a diferença na formação de biofilme entre cepas ancestrais (AN) e variantes evoluídas (EV) ocorre muito rapidamente — em até duas horas de incubação.

Além disso, sabe-se que a Listeria monocytogenes forma biofilmes multiespécies em ambientes de produção de alimentos, o que também pode afetar sua sobrevivência após a desinfecção da superfície.

Implicações para a indústria de alimentos

Para a indústria de alimentos, os resultados sugerem que cepas adaptadas podem surgir internamente no ambiente fabril e tornar-se mais difíceis de remover ou controlar. Dessa forma, isso reforça a necessidade de:

  • Monitoramento genético/ fenotípico de cepas de L. monocytogenes em ambientes industriais para identificar potenciais variantes “produtoras de biofilmes mais resistentes”.
  • Revisão de programas de limpeza e descontaminação, levando em conta que biofilmes mais densos podem exigir tratamentos mais agressivos ou intervalos de limpeza mais curtos.
  • Consideração de superfícies plásticas ou outras que favoreçam ciclos de colonização repetidos como foco de risco elevado.
  • Protocolo para monitoramento ambiental de L. monocytogenes.

O estudo de Bombelli et al. (2025) avança significativamente o entendimento dos mecanismos adaptativos de L. monocytogenes para a formação de biofilmes robustos, identificando o gene lmo1799 como chave no fenótipo “produtor forte de biofilme”.  Diante disso, esse achado amplia o panorama tradicional de fatores de biofilme e sugere que a persistência desse patógeno em ambientes industriais de alimentos pode envolver evolução genômica interna. Além disso, para a indústria de alimentos e para programas de segurança e qualidade, isso implica a necessidade de vigilância ativa, adequação de práticas de limpeza e consideração de estratégias que antecipem adaptações microbianas. Portanto, a prevenção da contaminação por L. monocytogenes requer não apenas a aplicação de boas práticas (como BPF, APPCC), mas também a compreensão da dinâmica evolutiva dos microrganismos no ambiente fabril.

Evolution of Listeria monocytogenes to a strong biofilm producer via the overexpression of Lmo1799

Referências

  • Bombelli, A., et al. “Evolution of Listeria monocytogenes to a strong biofilm producer via the overexpression of lmo1799”. Microbiological Research (Elsevier), vol. 303, Feb. 2026 [pre-print news blog summary].
  • Mazaheri, T., et al. “Listeria monocytogenes Biofilms in the Food Industry”. Frontiers in Microbiology/PMC, 2021.
  • Janež, N., et al. “The role of the Listeria monocytogenes surfactome in biofilm formation and virulence”. Frontiers in Microbiology/PMC, 2021.
  • Di Ciccio, P., Conter, M., Zanardi, E., Ianieri, A., et al. “Listeria monocytogenes: Biofilms in Food Processing”. Italian Journal of Food Science, vol. 24 (3), 2012.
  • de Oliveira, M.M.M., et al. “Biofilm formation by Listeria monocytogenes on stainless steel under various conditions”. Brazilian Journal of Microbiology, 2010.

Fonte da imagem: Freepik.

Keli Lima
Keli Lima

CEO da BR Quality e Estilo Food Safety, especialista em Qualidade e Segurança dos Alimentos. Atua como consultora, mentora e auditora líder em normas de Food Safety e ESG.