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Doces com metanfetamina

Recentemente, a Nova Zelândia foi palco de um incidente alarmante envolvendo a distribuição de doces contaminados com metanfetamina por uma instituição de caridade. A Auckland City Mission, uma organização que atende pessoas vulneráveis, distribuiu, sem saber, balas com níveis potencialmente letais de metanfetamina, o que gerou uma reação imediata das autoridades e da sociedade.

 

Por: Keli Lima Neves

 

Doces com metanfetamina

Este caso tornou-se notícia em agosto deste ano e segue em processo de investigação. Para nós, profissionais do Food Safety várias hipóteses passam na nossa cabeça e sabemos que dentro dos programas de gestão de segurança dos alimentos, existem diferentes formas para se tratar diferentes tipos de contaminação. Falamos muito aqui sobre o HACCP e o quanto ele é importante para manter a segurança dos alimentos, no entanto, ele trata de contaminações acidentais, o que, certamente, não foi o caso deste tipo de contaminação e portanto, não seria evitada através do programa de HACCP.

 

Não é possível, inclusive, dizer que esta contaminação aconteceu dentro da indústria, as investigações seguem acontecendo, mas, uma questão intrigante para investigação é que os doces estão perfeitamente embalados e em cada doce analisado detectou-se até 3g de metanfetamina.

 

Sabemos e estudamos muito que contaminações maliciosas podem acontecer e existem programas específicos para tentarmos evitar esses atos criminosos dentro das organizações, como por exemplo o Programa de Food Defense, que infelizmente, apenas empresas que possuem certificações internacionais, acabam olhando para esse programa com mais cuidado.

 

Programa de Food Defense como estruturar esse programa na minha empresa? Existe legislação para isso?

 

Entendendo o caso

 De acordo com o CBS News e outras fontes, uma doação de balas foi feita à Auckland City Mission, e essas balas foram distribuídas à população sem qualquer suspeita inicial de contaminação. No entanto, testes subsequentes revelaram que as balas continham quantidades perigosas de metanfetamina, uma droga ilegal de alto risco. Segundo as autoridades, o consumo desses doces poderia ter causado graves danos à saúde, incluindo a morte.

Esse incidente veio à tona após algumas pessoas informarem que doce estava com um gosto estranho e que após provarem começaram a sentir a se sentir estranhos, estes consumidores, além disso há algumas informações de que houve uma denúncia anônima de que as balas estavam sendo revendidas online. A partir dessa pista, a polícia iniciou uma investigação detalhada, resultando na descoberta da contaminação.

A NZ Drug Foundation teve acesso aos doces e após análise detectou a presença de 3g de metanfetamina nos pirulitos e emitiu um “alerta máximo”

“A NZ Drug Foundation está alertando as pessoas para não consumirem pirulitos de abacaxi da marca Rinda depois que uma quantidade potencialmente letal de metanfetamina foi encontrada em um pirulito embrulhado na embalagem da marca.

Pessoas que começaram a consumir o pirulito relataram um gosto amargo e uma sensação incomum.

A diretora executiva da Drug Foundation, Sarah Helm, disse que o pirulito continha aproximadamente 3 g de metanfetamina. “Engolir tanta metanfetamina é extremamente perigoso e pode resultar em morte.” Disse Sarah.

Acredita-se que o pirulito estava em um pacote lacrado que foi doado à Auckland City Mission e que alguns pirulitos podem ter sido distribuídos às pessoas em cestas básicas.”

A polícia da Nova Zelândia informou que identificou 41 pedaços de metanfetamina disfarçados de doces após iniciar as investigações e no dia 16.08.2024 informaram que não houve mais denuncias ou procura de atendimento de pessoas que consumiram os doces e tenham sentido algum sintoma.

 

Impacto na Comunidade

O NZ Herald relatou que o impacto foi particularmente preocupante, uma vez que os doces foram distribuídos para pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo moradores de rua, que podem ter menos acesso a cuidados médicos e informações de alerta. Além disso, a confusão sobre a natureza do produto — doces que normalmente são inofensivos — aumentou o risco, pois muitos poderiam consumir grandes quantidades sem saber do perigo.

A Auckland City Mission agiu rapidamente para recolher as balas e cooperou com as autoridades para garantir que nenhuma outra pessoa fosse exposta. A organização também expressou grande preocupação e lamentou o incidente, que comprometeu seus esforços de apoio social.

A Rinda, fabricante dos doces, também se colocou à disposição das autoridades para auxiliar nas investigações e demonstrou espanto e preocupação.

 

O Perigo da Metanfetamina

A metanfetamina, conhecida como “meth” ou “crystal meth”, é uma droga altamente viciante e perigosa. Seus efeitos no corpo podem incluir euforia, aumento da atividade física, perda de apetite, e em doses maiores, agitação extrema, convulsões, e morte. O uso contínuo da substância pode causar sérios danos à saúde física e mental, incluindo distúrbios cardíacos, problemas cognitivos e transtornos psiquiátricos.

No caso das balas, a quantidade de metanfetamina detectada era suficiente para representar um risco grave, mesmo com o consumo de pequenas quantidades. O The Guardian apontou que a polícia está investigando a origem dessas balas e como elas foram contaminadas.

 

Conclusão

 Esse evento nos traz vários pontos de reflexão e fortalecem as medidas que as autoridades cobram, tanto dos produtores de alimentos, quanto das instituições de caridade.

É possível que essa contaminação maliciosa tenha ocorrido fora da indústria, mas ainda assim, há uma chance de envolver pessoas que conhecem a produção e o produto.

Os programas de Food Defense e Food Fraud existem para que contaminações maliciosas sejam evitadas na cadeia de produção de alimentos. Sabemos que, segundo as diretrizes para construção do programa de Food Defense, é que precisamos pensar com a mente de um criminoso e que o criminoso pode ter interesse em contaminar os alimentos para prejudicar o outro, seja, um colega de trabalho, a empresa ou os consumidores. Também não podemos esquecer de possíveis atos terroristas e pessoas com mentes doentes que se divertem ao praticar atos de maldade. Os alimentos sempre serão uma possibilidade para esse tipo de crime, seja para prejudicar um individuo ou uma comunidade.

Você possui o programa de Food Defense implementado na sua fábrica?

Por outro lado, fica evidente a necessidade de controles rigorosos sobre doações recebidas por instituições de caridade. A situação na Nova Zelândia serviu como um alerta importante sobre os perigos ocultos que podem surgir até mesmo em contextos de ajuda humanitária. A instituição não conseguiu, neste caso, identificar quem foi o doador, só conseguiu determinar que a doação foi realizada dentro das últimas 6 semanas e isso é um tempo longo para conseguir rastrear informações. É preciso que as instituições, que baseiam-se no ato de amor e doação, entendam que nem todas as pessoas compactuam desta bondade e que podem usar desse caminho para prejudicar vulneráveis. Pensando nisso, estas instituições devem ter procedimentos definidos para receber, armazenar e avaliar as doações.

Além disso, esse caso demonstra a importância da rápida resposta das autoridades para mitigar o impacto de substâncias perigosas em uma sociedade.

As investigações continuam, e a Nova Zelândia está mais vigilante quanto à proteção de suas populações mais vulneráveis, garantindo que tragédias como essa não se repitam.

Referências

 

Fonte da Imagem: Freepik

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