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Lavando as maos

A Ameaça Invisível: Por Que a Higienização Incorreta das Mãos é Um Risco à Saúde

A Ameaça Invisível: Por Que a Higienização Incorreta das Mãos é Um Risco à Saúde

Em nosso cotidiano agitado, um gesto tão simples quanto lavar as mãos pode passar despercebido ou ser realizado de forma apressada e ineficaz. No entanto, essa ação básica representa uma das mais poderosas ferramentas de saúde pública e um pilar fundamental na prevenção de uma vasta gama de doenças. A aparente simplicidade da higienização incorreta das mãos contrasta fortemente com seu impacto monumental na interrupção de cadeias de transmissão de infecções. Quando negligenciada ou executada incorretamente, essa barreira protetora se rompe, abrindo portas para riscos significativos à saúde individual e coletiva.

Os Perigos Invisíveis: Consequências da Higienização Incorreta

Nossas mãos, ferramentas essenciais para interagir com o mundo, são também veículos primários para o transporte de microrganismos. A pele humana abriga naturalmente uma comunidade de bactérias e fungos, conhecida como microbiota.É crucial distinguir a microbiota residente, formada por microrganismos que habitam as camadas mais profundas da pele e geralmente se associam menos a infecções, da microbiota transitória. As pessoas adquirem esta última por contato direto com outras pessoas, superfícies contaminadas (como maçanetas, corrimãos, equipamentos médicos) ou fluidos corporais. A microbiota transitória coloniza a camada superficial da pele e inclui uma variedade de bactérias, vírus e fungos, muitos deles patogênicos ou potencialmente patogênicos. Felizmente, a higienização adequada das mãos consegue removê-la com eficácia. No entanto, quando as pessoas negligenciam essa prática, transformam as mãos em pontes para a disseminação de doenças (ANVISA, 2009).

A falta de higienização ou a técnica incorreta permite que esses agentes invisíveis sejam facilmente transferidos para as mucosas (olhos, nariz, boca) ou para alimentos, desencadeando uma série de doenças comuns. Infecções respiratórias, como gripes, resfriados e a própria COVID-19, encontram nas mãos um vetor eficiente de propagação. Da mesma forma, doenças gastrointestinais, incluindo diarreias causadas por bactérias como Salmonella ou vírus como o rotavírus, além da hepatite A, são frequentemente resultado da contaminação fecal-oral facilitada por mãos mal higienizadas após o uso do banheiro ou a manipulação de alimentos contaminados.

Na manipulação de alimentos, a higienização correta das mãos é essencial para evitar que estes microrganismos sejam transferidos das mãos para os alimentos e podem ser tornar fontes de doenças para aqueles que consumirem os alimentos contaminados.

Em ambientes de cuidado à saúde, as consequências da higienização inadequada das mãos assumem uma dimensão ainda mais crítica, sendo um fator central nas Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). As mãos dos profissionais de saúde, se não higienizadas nos momentos corretos e com a técnica apropriada, tornam-se o principal meio de transmissão cruzada de patógenos entre pacientes, equipamentos e o ambiente hospitalar. Estudos demonstram que microrganismos como Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter spp., Pseudomonas aeruginosa e Clostridium difficile podem contaminar as mãos dos profissionais durante o cuidado e serem subsequentemente transferidos para outros pacientes suscetíveis (ANVISA, 2009). As IRAS resultantes não apenas prolongam o tempo de internação e aumentam significativamente os custos do tratamento, mas também elevam as taxas de morbidade e mortalidade, representando um grave problema de saúde pública.

A Técnica Correta Salva Vidas: Como Higienizar as Mãos Eficazmente

Felizmente, combater os riscos associados à má higienização das mãos é algo acessível e eficaz, desde que a técnica correta seja empregada consistentemente. Organismos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e nacionais como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelecem diretrizes claras, baseadas em evidências científicas, para garantir que a limpeza das mãos remova ou inative os microrganismos potencialmente nocivos.

  • A higienização com água e sabonete, antes de mais nada, é indicada sempre que as mãos estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com sangue ou outros fluidos corporais. Além disso, deve ser feita após usar o banheiro, antes de comer ou manipular alimentos, e em diversas outras situações do cotidiano. O objetivo principal, portanto, é remover a sujidade e a microbiota transitória através da ação mecânica da fricção e do enxágue.
  • Para garantir sua eficácia, o procedimento completo deve durar no mínimo 20 segundos. Inicialmente, o processo inicia-se molhando as mãos com água corrente e aplicando sabonete líquido em quantidade suficiente para cobrir todas as superfícies das mãos. Em seguida, friccionam-se as palmas das mãos uma contra a outra.
  • Na sequência, o passo seguinte envolve friccionar a palma da mão direita contra o dorso da mão esquerda, entrelaçando os dedos, e repetir o movimento com a outra mão. Logo depois, friccionam-se as palmas das mãos uma contra a outra com os dedos entrelaçados. Posteriormente, a limpeza continua com a fricção do dorso dos dedos de uma mão contra a palma da mão oposta, mantendo os dedos unidos em um movimento de vai-e-vem, e vice-versa.
  • Além disso, a pessoa deve friccionar o polegar direito com a palma da mão esquerda, utilizando um movimento circular, e repetir o mesmo procedimento no polegar esquerdo. Em seguida, ela deve friccionar as polpas digitais e as unhas da mão direita contra a palma da mão esquerda, fazendo movimentos circulares, e repetir com a mão esquerda.
  • Depois disso, após a fricção cuidadosa de todas as áreas, as mãos devem ser bem enxaguadas em água corrente, removendo todo o sabonete. Em seguida, a secagem é uma etapa crucial e deve ser feita com papel toalha descartável. Por fim, utiliza-se o próprio papel toalha para fechar a torneira, caso esta não possua acionamento automático, evitando assim a recontaminação das mãos limpas (ANVISA, 2009; OMS, 2009)

Para garantir a máxima eficácia de ambas as técnicas, algumas observações são importantes. Manter as unhas curtas, limpas e evitar o uso de unhas postiças é fundamental, pois a área sob as unhas é de difícil limpeza e pode abrigar grande quantidade de microrganismos. Em ambientes de saúde, o uso de anéis, pulseiras e relógios também deve ser evitado, pois esses adornos dificultam a higienização adequada e podem servir como reservatórios para patógenos.

Momentos Cruciais: Quando a Higienização é Indispensável

Saber a técnica correta de higienização das mãos é essencial, mas igualmente importante é reconhecer os momentos críticos em que essa prática se torna absolutamente indispensável para interromper a cadeia de transmissão de microrganismos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em sua campanha “SAVE LIVES: Clean Your Hands”, sintetizou os momentos chaves para os profissionais de saúde no conceito dos “5 Momentos para a Higienização das Mãos”. 1) antes de tocar o paciente, 2) antes de realizar um procedimento limpo ou asséptico, 3) após o risco de exposição a fluidos corporais, 4) após tocar o paciente, 5) tocar superfícies próximas ao paciente.

Para o público em geral, embora os “5 Momentos” ofereçam uma boa orientação, existem diversas situações cotidianas que exigem atenção redobrada à higiene das mãos. É fundamental higienizar as mãos antes, durante e após o preparo de alimentos,

especialmente ao manipular carnes cruas, aves ou peixes, para evitar a contaminação cruzada. Lavar as mãos antes de comer é um hábito básico para prevenir a ingestão de germes. Cuidados especiais são necessários antes e após cuidar de alguém que esteja doente, ou antes e após tratar um corte ou ferida, para proteger tanto o cuidador quanto a pessoa doente ou ferida. A higienização após usar o banheiro é inegociável, assim como após trocar fraldas ou auxiliar uma criança na higiene pessoal. Quando as pessoas assoam o nariz, tossem ou espirram (idealmente na dobra do cotovelo, mas, caso utilizem as mãos, devem lavá-las imediatamente), elas também precisam higienizar as mãos em seguida. O contato com animais, seus alimentos ou dejetos, bem como a manipulação de lixo, são outras situações que requerem a lavagem das mãos logo em seguida. Incorporar a higienização correta nesses momentos chave da rotina diária é um passo fundamental para a proteção da saúde individual e da comunidade.

Na produção de alimentos, a higienização das mãos é uma arma poderosa para evitar a contaminação de alimentos, manter as mãos sempre limpas ao manipular alimentos, embalagens, equipamentos ou estar em áreas de produção é fundamental.

Um Gesto Simples, Um Impacto Gigantesco

É possível ter clareza sobre a importância crítica da higienização das mãos, um ato frequentemente subestimado, mas que se revela como uma das intervenções mais eficazes e de baixo custo para a prevenção de uma miríade de doenças infecciosas.

A negligência ou a execução incorreta dessa prática pode transformar nossas mãos em vetores de patógenos, contribuindo para a disseminação de infecções comuns. A compreensão da técnica correta e a consciência dos momentos cruciais para sua aplicação são fundamentais para quebrar a cadeia de transmissão.

A responsabilidade pela manutenção de mãos limpas é um compromisso individual e coletivo na proteção da saúde pública. Incorporar o hábito da higienização correta das mãos na rotina diária, tanto na esfera pessoal quanto profissional, não é apenas uma medida de autocuidado, mas um ato de respeito e proteção ao próximo. Que a simplicidade deste gesto não nos engane sobre seu poder: mãos limpas, de fato, salvam vidas, prevenindo sofrimento, reduzindo custos com saúde e construindo comunidades mais saudáveis e seguras para todos.

Confira aqui como a higienização incorreta das mãos é um perigo invisível!

 

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Referências

  • AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Segurança do Paciente

em Serviços de Saúde: Higienização das Mãos. Brasília: Anvisa, 2009. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ seguranca_paciente_servicos_saude_higienizacao_maos.pdf. Acesso em: 02 jun. 2025.

  • WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). WHO Guidelines on Hand Hygiene in

Health Care: First Global Patient Safety Challenge Clean Care Is Safer Care. Geneva: WHO Press, 2009. Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/ 10665/44102/9789241597906_eng.pdf. Acesso em: 02 jun. 2025.

  • CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Handwashing: Clean

Hands Save Lives. Disponível em: https://www.cdc.gov/handwashing/index.html. Acesso em: 02 jun. 2025. (Nota: Embora não citado diretamente no texto principal, o CDC é uma referência fundamental e suas diretrizes gerais alinham-se com as da OMS/Anvisa).

  • PESSOA-SILVA, C. L. et al. Infection due to extended-spectrum beta-lactamase- producing Salmonella enterica subsp. enterica serotype infantis in a neonatal unit.

J Pediatr, New York, v. 141, n. 3, p. 381-387, Sept. 2002. (Exemplo citado

indiretamente via Anvisa, 2009).

  • BOSZCZOWSKI, I. et al. Outbreak of extended spectrum beta-lactamase-producing Klebsiella pneumoniae infection in a neonatal intensive care unit related to onychomycosis in a health care worker. Pediatr Infect Dis J, Philadelphia, v. 24, n. 7, p. 648-650, July 2005. (Exemplo citado indiretamente via Anvisa, 2009).
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