Intoxicação por metanol leva a morte

Intoxicação por metanol leva a morte

Intoxicação por metanol leva a morte

Alerta de Saúde Pública: Casos de morte e cegueira por intoxicação de metanol em São Paulo 

Recentemente o estado de São Paulo tem sido cenário de uma série preocupante de casos de intoxicação por metanol, substância tóxica presente em bebidas alcoólicas adulteradas. Diante disso, as ocorrências resultaram em mortes e sequelas graves, como a perda da visão, levantando um alerta crucial para a saúde pública e a segurança do consumidor. As autoridades, incluindo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e a Polícia Federal, estão mobilizadas para investigar a origem e a rede de distribuição dessas bebidas contaminadas, que, segundo indícios, podem transcender as fronteiras estaduais

Falsificação de bebidas

De acordo com pesquisa do Núcleo de Pesquisa e Estatística da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) divulgada em abril de 2025, estima que 36% das bebidas comercializadas no Brasil são fraudadas, falsificadas ou contrabandeadas, com uma em cada cinco garrafas de vodca sendo adulterada. (CNN Brasil)

De acordo com o relatório, vinhos e destilados estão entre os produtos mais afetados pela falsificação. Uma em cada cinco garrafas de vodca vendidas no país é adulterada, segundo o levantamento. (CNN Brasil)

Casos de intoxicação

Em um período de 25 dias, diversas ocorrências de intoxicação por metanol foram registradas em São Paulo, todas associadas à ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas. Ademais, até o momento, três mortes foram confirmadas, sendo todas do sexo masculino de 38, 54 e 45 anos. Além disso, outros pacientes permanecem internados e casos estão sob investigação.

  • Um jovem de 23 anos, ingeriu uma bebida alcoólica adulterada com metanol. Apesar de a garrafa estar lacrada e ser de uma marca famosa, a bebida estava contaminada. Com isso, o jovem relatou que acordou sem visão no dia seguinte à ingestão, e embora sua visão tenha retornado, ele precisou ser internado para desintoxicação do metanol no sangue.

 

  • Uma mulher perdeu completamente a visão após consumir uma bebida alcoólica em um bar na Zona Sul de São Paulo. A paciente precisou ser submetida a coma induzido. Atualmente, ela não está mais em coma, mas permanece internada e em tratamento, sem previsão de recuperação da visão.

 

  • Outro caso impactante, é de um jovem de 27 anos que está em coma há quase 1 mês. Segundo a mãe do jovem, os médicos conseguiram remover o metanol do sangue do paciente. Entretanto, os danos causados já haviam afetado a visão e o cérebro dele. Em razão disso, para a medicina o quadro do paciente é irreversível.

O perigo do metanol

O metanol é um álcool não potável, comumente utilizado em processos industriais e automotivos, sendo extremamente perigoso para o consumo humano. Os sintomas iniciais da intoxicação podem ser facilmente confundidos com os da embriaguez comum, como dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal e confusão mental. No entanto, a intoxicação por essa substância evolui rapidamente para manifestações severas, incluindo alterações visuais que podem levar à cegueira permanente. Além disso, em doses elevadas, a ingestão desse composto pode ser fatal.

Recomendações e ações das autoridades

Diante da gravidade da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP), emitiu uma recomendação crucial para estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas. Dessa forma, as recomendações são direcionadas a uma vasta gama de estabelecimentos, incluindo bares, restaurantes, casas noturnas, hotéis, mercados, atacarejos, distribuidores, plataformas de e-commerce e aplicativos de entrega.

Assim sendo, entre as principais orientações, destacam-se:

  • Compra segura e conferência de produtos: Incentivo à aquisição de produtos de fornecedores confiáveis e à verificação rigorosa da integridade das embalagens e rótulos.
  • Fortalecimento da rastreabilidade: Aprimoramento dos sistemas de rastreamento de produtos para identificar rapidamente a origem de bebidas adulteradas.
  • Identificação de suspeitas: Alerta para sinais de adulteração, como preços anormalmente baixos, lacres danificados, erros de impressão nos rótulos, odor semelhante a solventes e relatos de consumidores com sintomas de intoxicação.

Além disso, em coletiva realizada nesta terça-feira (30), o ministro Ricardo Lewandowski afirmou que a Polícia Federal abriu um inquérito para verificar a procedência da droga e a possível rede de distribuição, indicando que a questão pode se estender para além do estado de São Paulo.

Diante desse cenário, em caso de suspeita de adulteração, os estabelecimentos devem agir imediatamente. Interromper a venda do lote, isolar fisicamente os produtos, preservar evidências (garrafas, caixas, rolhas, rótulos) e manter amostras íntegras para perícia.

Se os consumidores apresentarem sintomas, o encaminhamento médico urgente e o acionamento do Disque-Intoxicação (0800 722 6001) da Anvisa são cruciais.

Cenário internacional: Rússia e Índia enfrentam desafios semelhantes

A problemática da intoxicação por metanol em bebidas adulteradas não é exclusiva do Brasil. Em setembro, a Rússia registrou pelo menos 25 mortes, após o consumo de vodcas adulteradas. De acordo com exames da perícia, o metanol causou oito dessas mortes. Diante disso, 14 suspeitos foram presos, incluindo uma professora e um aposentado, acusados de fabricar e distribuir as bebidas falsificadas. Ademais, durante as buscas, os agentes apreenderam mais de 1.300 litros de bebidas alcoólicas falsificadas.

Na Índia, o consumo de bebidas adulteradas com metanol já causou a morte de centenas de pessoas nos últimos anos. A exemplo, em junho de 2024, quase 40 pessoas vieram a óbito e mais de 100 foram hospitalizadas no estado de Tamil Nadu após consumirem um lote de bebida destilada misturada com o composto químico. Além disso, em 2019, outro incidente causou 99 mortes nos estados de Uttar Pradesh e Uttarakhand.

Esses casos globais reforçam a urgência de ações coordenadas para combater a falsificação de bebidas e proteger a saúde pública em todo o mundo.

Legislação

A legislação Brasileira prevê que esta análise seja realizada em bebidas alcóolicas, como por exemplo para a Portaria 539/2022 do MAPA que traz os padrões de identidade e qualidade para Aguardente e Cachaça e classifica o metanol como contaminante. Veja exemplo abaixo:

O que as empresas devem fazer?

Os produtores de bebidas, assim como, todos os produtores de alimentos, devem implementar o programa de Food Fraude que tem como objetivo evitar possíveis adulterações com objetivo econômico ao longo de toda cadeia, da matéria prima ao consumidor final. Este programa prevê uma avaliação de vulnerabilidade e a implementação de técnicas para mitigar a possibilidade de fraude.

Boas práticas (camadas de proteção) para evitar metanol e outras fraudes

Produtores podem adotar as seguintes sugestões:

A) Compras e qualificação de fornecedores

  • Due diligence: histórico de conformidade, capacidade técnica, certificações GFSI, visitas in loco, cláusulas contratuais antifraude e direito de auditoria.
  • Análise de residual de etanol e outros contaminantes.

B) Testes analíticos direcionados

Controles físicos e de logística

  • Lacres invioláveis numerados em caminhões, válvulas e tampas de tanques; conferência “selo-a-selo” no recebimento.
  • Mapeamento de linhas com pontos “difíceis de adulterar” (válvulas trancadas, controle de chaves).
  • Balanço de massa e rendimento

C) Gestão de mudanças e rotas de suprimento

  • Red flags: ofertas “baratas demais”, rotas logísticas incomuns, prazos incompatíveis, solicitações de pagamento adiantado atípicas, divergências em documentos (CMR/CRT, nota, COA). Treine times de compras, recebimento, laboratório e logística para reconhecer e reportar.

D) Embalagem e autenticação

  • Tampas/rolhas com múltiplos elementos (tamper-evident + marcações micro/impressão variável), marcadores forenses ou códigos serializados/QR com verificação no app.
  • Política de controle de refugos (descartar/triturar rolhas, rótulos, caixas defeituosas para evitar reutilização por falsificadores).

E) Monitoramento externo e inteligência

  • Assine bases/alertas e monitore recalls/boletins (autoridades, associações setoriais, notícias de surtos). Metanol segue causando surtos fatais globalmente — OMS já consolidou riscos e recomendações, e casos recentes continuam a ocorrer. Use esses sinais para ajustar a amostragem.

 

Referências:

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/sp/entidade-estima-que-36-das-bebidas-vendidas-no-brasil-sao-falsificadas/

https://www.band.com.br/noticias/vitima-de-intoxicacao-por-bebida-adulterada-202509281526

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/sp/metanol-importado-pelo-pcc-pode-ter-sido-usado-em-bebidas-diz-associacao/

https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2025/09/29/vodca-adulterada-mata-pelo-menos-25-na-russia-14-pessoas-sao-presas.ghtml

https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2025/09/7259588-russia-e-india-tambem-registram-mortes-por-ingestao-de-metanol-na-bebida.html

Fonte da imagem: Freepik.

Keli Lima
Keli Lima

CEO da BR Quality e Estilo Food Safety, especialista em Qualidade e Segurança dos Alimentos. Atua como consultora, mentora e auditora líder em normas de Food Safety e ESG.