Os alimentos mais fraudados no mundo (1)

Os alimentos mais fraudados no mundo

Os alimentos mais fraudados no mundo

Por: Keli Lima Neves

Não é de hoje que ouvimos falar sobre casos de fraudes em alimentos, alguns tomam grandes proporções de divulgação, como os casos, no Brasil, da Operação Leite Compensado e outros não são tão explorados e seu alcance de divulgação fica limitado.

O fato é que todas as industrias de alimentos, de alguma forma e proporção, precisam lidar com possibilidades de fraudes e implementar programas específicos como o programa de Food Fraud.

Fraude alimentar está associada a uma contaminação proposital nos alimentos, que acontece com objetivos econômicos, ou seja, quem frauda busca um ganho financeiro através da contaminação dos alimentos e isso configura crime.

Os alimentos mais fraudados no mundo

Fraude alimentar é um problema global que afeta a integridade e a segurança dos alimentos. A FDA, a agência regulatória dos Estados Unidos, estima que 1% de todos os alimentos produzidos no mundo sofram algum tipo de fraude, o que gera prejuízos na casa dos US$ 40 bilhões (cerca de R$ 216 bilhões) todos os anos.

Segundo um estudo sobre fraudes alimentares, publicado em 2024 por especialistas em certificação da cadeia produtiva, que foram compilados por pesquisadores das empresas americanas FoodChain ID, Henry Chin and Associates e Moore FoodTech e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) do Brasil, foram publicados no periódico científico Journal of Food Protection em março de 2024.

Estes pesquisadores, levantaram um banco de dados com 15.575 registros de incidentes entre 1980 e 2022 os quais revelam que produtos como leite, azeite de oliva, mel, carne bovina e especiarias são os mais adulterados. O estudo demonstrou que a adulteração não apenas engana consumidores, mas também representa um risco à saúde, especialmente quando envolve substâncias perigosas.

 

Principais Alimentos Fraudados

  1. Leite e Derivados: o leite de vaca é o produto mais fraudado no mundo, com 348 registros de fraude. Uma das adulterações mais comuns é a diluição com água ou a adição de substâncias como uréia, detergente e melamina. Esta prática é perigosa, especialmente para consumidores vulneráveis, como bebês e pessoas com intolerâncias alimentares. A melamina, usada para aumentar o teor de nitrogênio (indicativo de proteínas), é notoriamente conhecida por ter causado intoxicações em 2008, levando à morte de bebês na China.
  2. Azeite de Oliva: o azeite de oliva, especialmente o extra virgem, frequentemente sofre adulterações com óleos vegetais mais baratos, como óleo de soja, girassol ou até óleo de palma. Essas fraudes não apenas diminuem a qualidade do produto, mas também violam a confiança do consumidor e impactam negativamente a indústria, que luta por controle de qualidade e certificações geográficas.
  3. Mel: o mel é outro produto altamente vulnerável à fraude, com práticas que incluem a adição de xaropes de milho e cana-de-açúcar. Esses ingredientes falsos são mais baratos e difíceis de detectar sem testes laboratoriais adequados. Além disso, fraudes relacionadas à origem geográfica do mel (como mel de acácia ou manuka) também são comuns.
  4. Carnes: a fraude em produtos cárneos, especialmente carne bovina, envolve a substituição por carne de espécies mais baratas, como cavalo ou carne suína. Em 2013, o escândalo da carne de cavalo na Europa expôs a vulnerabilidade da cadeia de fornecimento de carnes, impactando severamente a confiança do consumidor.
  5. Especiarias e Temperos Especiarias como açafrão, pimenta e chili em pó frequentemente sofrem adulteração com corantes artificiais perigosos, como os corantes Sudão e Rhodamina B. Esses compostos são usados para melhorar a aparência dos produtos, mas são proibidos em muitos países por seus efeitos cancerígenos. Na pesquisa o  Chili em pó e o Açafrão foram levantados como as duas especiarias que mais sofreram adulteração no período avaliado. Chili em pó: Misturado com corantes como o Sudan; mais frequente na Índia e Bangladesh. Açafrão: Misturado com pó de curcuma e corantes; fraudes comuns no Irã e Índia.
  6. Vinho: Substituição de uvas por varietais mais baratos; países como Itália e França foram os mais afetados.
  7. Suco de laranja: Adulterado com concentrados mais baratos; fraudes detectadas no Brasil e EUA.
  8. Carne de frango: Misturada com carne inferior; fraudes frequentes na Ásia e América Latina.
  9. Whiskey: Adulterado com álcool industrial; Europa Oriental e Ásia lideram nas fraudes.

O levantamento completo compreende 20 alimentos e apresenta as principais fraudes de cada um, mas, sabemos que muitos outros alimentos já foram pontualmente envolvidos em fraudes e precisamos considerar estas informações quando elaboramos nosso programa de Gestão de Segurança dos Alimentos.

 

Tipos de Fraude Alimentar

O estudo destaca que as fraudes podem ocorrer de várias formas:

  • Diluição e Substituição: Alimentos são adulterados com ingredientes mais baratos para aumentar volume ou peso. Isso é comum no leite, mel e azeites.
  • Falsificação de Origem: Produtos, especialmente vinhos, azeites e mel, são rotulados como provenientes de regiões renomadas, como Itália ou Nova Zelândia, quando na verdade são produzidos em locais diferentes.
  • Adição de Substâncias Não Aprovadas: Adicionam-se substâncias não permitidas para melhorar a aparência ou textura de alimentos. Um exemplo notável é a adição de melamina no leite ou de corantes no açafrão.

Impactos à Saúde e à Economia

De acordo com a pesquisa, cerca de 34% a 60% dos alimentos adulterados possuem substâncias perigosas que representam um risco à saúde pública.

A fraude alimentar também causa enormes perdas econômicas à indústria alimentícia global. A quebra de confiança do consumidor, somada a custos de testes laboratoriais e recall de produtos, representa um desafio financeiro substancial. No entanto, as consequências mais severas recaem sobre os consumidores, que são expostos a riscos à saúde, perda de valor nutricional e engano sobre a qualidade dos produtos que consomem.

Os países mais afetados

Os países mais afetados variam conforme os produtos. A pesquisa revelou que países como China, Índia, Itália, Espanha, Brasil, e Estados Unidos lideram em incidentes de adulteração de produtos como leite, azeite, carne bovina, suco de laranja, e especiarias. Na China, o leite foi adulterado com melamina, causando grande impacto na saúde pública. A Itália e Espanha enfrentaram fraudes no azeite de oliva, com a adição de óleos vegetais mais baratos. Índia teve problemas com especiarias adulteradas por corantes perigosos, como o Sudan, enquanto o Brasil foi alvo de adulteração no suco de laranja e leite.

Resultados por país:

China:

    • O maior caso de fraude alimentar foi a adição de melamina no leite em 2008, levando à intoxicação de milhares de bebês. A fraude envolvia a adição de melamina para aumentar artificialmente o teor de proteína no leite.
    • Além do leite, a China também registra fraudes no mel, com a adição de xarope de milho de alta frutose, diminuindo o valor nutricional e enganando os consumidores.

 

Índia:

    • Especiarias como chili e açafrão são adulteradas com corantes proibidos, como os corantes Sudan e Rhodamina B, altamente tóxicos e cancerígenos. A prática de falsificação de especiarias é amplamente documentada na Índia, afetando tanto o mercado interno quanto as exportações.
    • Leite e produtos lácteos também são frequentemente adulterados com água e outras substâncias químicas.

 

Itália:

    • Conhecida por sua produção de azeite de alta qualidade, a Itália tem sofrido com fraudes no azeite de oliva, em que óleos de qualidade inferior, como óleo de soja ou óleo de girassol, são misturados e vendidos como azeite extra virgem.
    • Além disso, a fraude em vinhos é um problema recorrente, com vinhos de menor qualidade sendo rotulados como provenientes de regiões renomadas.

 

Espanha:

    • Assim como na Itália, a fraude no azeite de oliva é comum na Espanha, um dos maiores produtores mundiais. O azeite de baixa qualidade é frequentemente misturado com outros óleos, enganando os consumidores sobre a autenticidade do produto.
    • Mel também é alvo de adulteração, com a adição de xaropes de açúcar, comprometendo sua pureza e valor nutritivo.

 

Brasil:

    • O suco de laranja brasileiro, uma das principais exportações do país, tem sido alvo de adulteração com concentrados mais baratos e água. Essa prática é prejudicial tanto para o mercado quanto para os consumidores, que compram suco de baixa qualidade.
    • O Brasil também registra fraudes em produtos cárneos e lácteos, com operações conduzidas pela policia federal para identificar as fraudes na cadeia.

 

Estados Unidos:

    • O mercado dos EUA tem enfrentado fraudes no whiskey e em outros destilados, onde o álcool industrial é adicionado a bebidas fraudulentas. A fraude com álcool adulterado é um problema contínuo, especialmente em bebidas destiladas de origem incerta.
    • A fraude no suco de laranja também afeta os EUA, com produtos sendo diluídos ou misturados com ingredientes de menor qualidade.

 

Prevenção e Combate à Fraude Alimentar

A prevenção da fraude alimentar exige um esforço global coordenado. O estudo destaca que a detecção precoce por meio de testes laboratoriais avançados, aliados a regulamentações mais rígidas, são essenciais. Além disso, a rastreabilidade dos produtos ao longo da cadeia de fornecimento, o uso de certificações confiáveis e auditorias independentes são passos importantes para reduzir as oportunidades de fraude.

A pesquisa sugere que o fortalecimento das redes internacionais de vigilância alimentar, como a criação de bancos de dados globais sobre fraudes, ajudaria a identificar padrões e locais de maior risco, facilitando a ação preventiva por parte das autoridades.

Os profissionais de Food Safety precisam implementar programa de Food Fraud bem estruturados e estudar com preocupação as possíveis fraudes vinculadas as matérias primas adquiridas e aos produtos fabricados, para assim, implementar medidas de controle e evitar as fraudes.

Um conselho para o consumidor: desconfie quando o valor do produto de determinada marca estiver muito abaixo das outras marcas do mercado.

A colaboração entre governos, indústrias e consumidores é necessária para enfrentar de forma eficaz a fraude alimentar, garantir a segurança dos alimentos em todo o mundo​ e acabar com a concorrência desleal.

 

Fonte

Database of Food Fraud Records: Summary of Data from 1980 to 2022 Karen D. Everstine, Henry B. Chin, Fernando A. Lopes, Jeffrey C. Moore

 

Fonte da Imagem: Freepik

 

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