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Alcalóides de Ergot: riscos destas micotoxinas

Por Éderson Josué e Keli Lima Neves

O que são?

Os alcaloides de ergot são micotoxinas produzidas por muitas espécies de fungo do gênero Claviceps, o nome ergot, de origem francesa, significa “esporão”, já que os grãos colonizados com Claviceps spp. muitas vezes tomam a forma de esporões das pernas de galos1.

Muitos tipos diferentes de pastagens podem se tornar contaminadas com alcaloides de ergot. Claviceps purpurea pode infetar as estruturas reprodutivas de cereais em condições frias e úmidas, sendo o centeio o hospedeiro economicamente mais importante1.

Fontes de contaminação

Muitos tipos diferentes de pastagens podem se tornar contaminadas com alcaloides de ergot. Claviceps purpurea pode infetar as estruturas reprodutivas de cereais em condições frias e úmidas, sendo o centeio o hospedeiro economicamente mais importante. Estruturas especializadas do fungo conhecidas como esclerócios (os esporões) se desenvolvem destas estruturas reprodutivas e podem ser colhidos com os grãos. Se o esclerócio é processado junto com a farinha, altos níveis de contaminação com alcaloides de ergot podem ocorrer1.

Na Europa, Claviceps purpurea é a espécie de Claviceps mais difundida. Sabe-se que infecta mais de 400 espécies de plantas, incluindo alguns grãos de cereais economicamente importantes, como centeio, triticale, trigo, cevada, painço e aveia.

Métodos de detecção

A cromatografia líquida de alta eficiência com detecção de fluorescência (HPLC-FLD) e a espectrometria de massa em tandem (HPLC-MS/MS) permitem a determinação de alcaloides de ergot individuais em alimentos e rações em níveis relevantes.

Outra forma de detecção dos alcaloides de ergot disponíveis no mercado trata-se de kit (equipamento + reagentes) para teste quantitativo imunocromatográfico de fluxo lateral, a qual oferece resultados precisos em até oito minutos.

Exposição humana 

O consumo de produtos contaminados com alcaloides de ergot podem causar a doença conhecida como ergotismo, doença bastante antiga, considerada doença da Idade Média, caracterizada por sinais e sintomas neurológicos, como perda da consciência, dor de cabeça intensa e alucinações, podendo também haver alterações na circulação sanguínea, o que pode resultar em gangrena, por exemplo2.

A manifestação mais comum do ergotismo é a isquemia arterial periférica devido ao vasoespasmo secundário à estimulação dos receptores alfa-adrenérgicos, dopaminérgicos e serotoninérgicos periféricos; para direcionar a estimulação do músculo liso e sua atividade simpatolítica central. Clinicamente há dor intensa em queimação, formigamento, palidez, cianose, ausência de pulsos nas extremidades e gangrena seca levando a autoamputação, infecção ou sepse3.

Exposição animal

Em cada animal, as características clínicas da intoxicação podem variar na dependência da concentração relativa dos componentes químicos dos esclerócios. Ergotismo gangrenoso – O ergotismo gangrenoso corresponde à forma crônica da intoxicação. Os alcaloides do ergot, especialmente a ergotamina, provocam vasoconstrição periférica, acompanhada de tromboses provenientes de danos observados no endotélio vascular, o que resulta em redução do fluxo sanguíneo, especialmente nas extremidades. Quando a vasoconstrição se torna severa, podem ocorrer episódios de gangrena seca localizada nas patas, orelhas, barbelas e rabo. Em casos mais avançados, o casco pode se soltar completamente e pode, até mesmo, haver perda total da pata4.

No ergotismo nervoso, que pode ser considerado como a forma aguda da intoxicação, certos alcaloides como a bromocriptina atuam seletivamente sobre os receptores dopamínicos da hipófise. aos primeiros sintomas são ptialismo, hiperexcitabilidade, tremores, incoordenação, vertigens e ataxia. Quando os animais são provocados por estímulos auditivos ou visuais, costumam responder com excitação e até mesmo com agressividade. A esta fase, podem seguir períodos convulsivantes e morte4.

Em equinos os alcaloides de ergot podem também afetar a reprodução, gerando alterações no final da gestação das éguas, como: Período de gestação prolongado 11-12 meses; Distocia com éguas, por vezes, tentando a parição por muitas horas; Agalactia com colostro de má qualidade (níveis baixos de imunoglobulinas); “Saco vermelho” – placentas de separação prematura; Placentas edematosa grossas, com pesos superiores a 6,5 kg para uma égua; Potros fracos ou mortos com pneumonia de aspiração em função da luta para sair através de uma placenta espessada5.

Toxicidade dos alcaloides do ergot

A União Europeia estabelece níveis máximos de alcaloides de ergot variando de 20 a 500 µg/kg de acordo com o tipo de produto e consumidor final a que se destina, conforme anexo do documento regulatório (EU) 2021/1399.

Referências:

1) Micotoxinas nas Lavouras (Culturas, pt): Um Perigo à Saúde Humana e de Animais Domésticos.
Disponível em <https://www.apsnet.org/edcenter/disimpactmngmnt/topc/Micotoxinas/Pages/ErgotAlkaloidsPort.aspx#:~:text=Os%20alcaloides%20de%20ergot%20(cravagem,de%20galos%20(Figura%205).>. Acesso em: 18 dez. 2022.
2) Ergotismo: o que é, sintomas e tratamento. Disponível em: <https://www.tuasaude.com/ergotismo/>. Acesso em: 18 dez. 2022.
3) Sobre el mal de los ardientes o del fuego de San Antonio. Disponível em: <https://www.redalyc.org/journal/1631/163159044007/html/>. Acesso em: 18 dez. 2022.
4) Micotoxicoses em animais herbívoros. Disponível em: <https://pt.engormix.com/micotoxinas/artigos/micotoxicoses-animais-herbivoros-t37704.htm>. Acesso em: 18 dez. 2022.
5) As micotoxinas e os problemas reprodutivos em cavalos. Disponível em: <https://univitta.net/blog/as-micotoxinas-e-os-problemas-reprodutivos-em-cavalos>. Acesso em: 18 dez. 2022.
6) Human and animal dietary exposure to ergot alkaloids. Disponível em: < https://efsa.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.2903/j.efsa.2017.4902>. Acesso em: 18 dez. 2022.
7)  Scientific Opinion on Ergot alkaloids in food and feed. Disponível em: < https://efsa.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.2903/j.efsa.2012.2798>. Acesso em: 18 dez. 2022.



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