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Carrefour vs. Agro Brasileiro: Quem Depende de Quem?

Carrefour vs. Agro Brasileiro: Quem Depende de Quem?

Por: Henrique de Castro Neves, PhD

A recente disputa entre o Carrefour e o setor agropecuário brasileiro traz à tona uma questão central nas relações comerciais globais: a interdependência econômica entre mercados consumidores, como a União Europeia, e grandes produtores, como o Brasil. Sob pressão de grupos ambientalistas, o Carrefour tem adotado medidas para limitar a compra de carne bovina brasileira, acusada de estar vinculada ao desmatamento.

No entanto, especialistas apontam que essa narrativa ignora o papel crucial do Brasil na segurança alimentar europeia e as boas práticas já consolidadas pelo agronegócio brasileiro.

A Dependência da União Europeia do Brasil

A França e a União Europeia dependem significativamente do Brasil como fornecedor estratégico de alimentos, incluindo carne bovina.

O Brasil é o maior exportador mundial de carne e outros produtos agrícolas, abastecendo mercados que enfrentam limitações para produzir em larga escala.

Essa relação é vital, especialmente em um cenário de crescente insegurança alimentar global.

Embora a União Europeia tenha representado apenas 3% das exportações de carne bovina brasileira entre janeiro e outubro de 2024, a situação inversa é bem diferente.

Muitos países europeus, incluindo a França, não conseguem atender à demanda interna por proteínas animais sem recorrer a importações de países como o Brasil, que possuem condições naturais favoráveis e alta eficiência produtiva.

A dependência da União Europeia em relação ao Brasil vai além da carne bovina. O agronegócio brasileiro desempenha um papel crucial no abastecimento de commodities agrícolas essenciais, como soja, milho e café, insumos indispensáveis para a indústria de alimentos europeia.

A limitada capacidade de expansão agrícola na Europa, aliada ao elevado custo de produção local, torna o Brasil um parceiro estratégico insubstituível.

Sem as exportações brasileiras, a Europa enfrentaria sérios desafios para manter sua cadeia produtiva, especialmente em um cenário de crescimento populacional e aumento da demanda por alimentos. Além disso, enquanto o Brasil consegue atender à demanda global com eficiência e práticas sustentáveis, a Europa ficaria exposta a custos mais altos e à falta de alternativas competitivas no mercado internacional, evidenciando ainda mais sua dependência do modelo produtivo brasileiro.

O Agronegócio Brasileiro: Benchmark em Sustentabilidade e Tecnologia

Ao contrário das críticas, o agronegócio brasileiro é reconhecido globalmente como um modelo de sustentabilidade e inovação tecnológica.

Há décadas, a pecuária brasileira adota práticas ambientais rigorosas, incluindo o Código Florestal, que exige a preservação de reservas legais em propriedades rurais, algo único no mundo.

O Brasil lidera em tecnologias como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), manejo sustentável de pastagens e uso de biotecnologia para aumentar a eficiência da produção.

Essas práticas não apenas minimizam o impacto ambiental, mas também tornam o setor mais competitivo e alinhado às demandas globais por alimentos sustentáveis.

O sistema de cotas agrícolas vigente na União Europeia limita a capacidade de expansão e inovação no setor agropecuário europeu, atrasando o desenvolvimento tecnológico e a competitividade do bloco no mercado global.

Essa política, que visa proteger produtores locais, acaba tornando a produtividade europeia estagnada e suas práticas de sustentabilidade mais frágeis do que as aplicadas no Brasil.

Enquanto o Brasil investe em tecnologia de ponta, a Europa segue presa a modelos que priorizam subsídios em detrimento da eficiência. Essa realidade intensifica a dependência europeia de países como o Brasil, que não apenas produzem mais, mas também com menores impactos ambientais por unidade produzida.

Desafios da Narrativa Europeia

A narrativa de que o Brasil é dependente de mercados como o europeu desconsidera a diversificação dos destinos das exportações brasileiras.

Hoje, países asiáticos, como a China, representam os principais compradores de carne brasileira, diminuindo a relevância da União Europeia como mercado prioritário.

Isso reforça a posição do Brasil como um fornecedor essencial, enquanto a Europa enfrenta o desafio de garantir alternativas sustentáveis de abastecimento caso opte por limitar a importação de produtos brasileiros.

O discurso europeu em relação ao Brasil muitas vezes reflete uma postura de superioridade que remete à mentalidade colonialista, onde antigos colonizadores acreditam ter autoridade para impor juízos e regras ao resto do mundo sem medir as consequências.

Em diversas ocasiões, essa abordagem denota soberba e preconceito, desconsiderando o papel estratégico do Brasil no abastecimento global de alimentos e a eficiência do agronegócio brasileiro, que supera de longe a de muitos países europeus em sustentabilidade e inovação tecnológica.

Tal postura não apenas desrespeita a soberania brasileira, mas também ignora o fato de que a Europa depende do Brasil para garantir a segurança alimentar de seus próprios mercados.

Essa retórica arrogante não contribui para soluções colaborativas e demonstra um descompasso entre a realidade global e as expectativas idealizadas de consumidores europeus.

Conclusão

A disputa entre o Carrefour e o agro brasileiro é mais do que um conflito pontual: é um reflexo das tensões nas relações econômicas globais em um mundo que busca equilibrar sustentabilidade e segurança alimentar. No entanto, é inegável que a União Europeia depende mais do Brasil do que o contrário.

O agronegócio brasileiro, reconhecido por suas boas práticas ambientais e uso de tecnologia de ponta, continuará sendo um ator indispensável no cenário global, enquanto o Carrefour e outros players precisarão repensar estratégias para manter suas cadeias de suprimentos sem comprometer sua imagem perante consumidores e mercados internacionais.

Por isso, a manutenção do respeito nessa relação é um componente importante, para evitarmos rupturas desnecessárias e embates que geram mais perda de tempo do que qualquer outra coisa.

 

Referências

Jornal Folha do Estado – Dados sobre a participação da União Europeia nas exportações de carne bovina do Brasil em 2024. Disponível em: <https://www.jornalfolhadoestado.com/economia/exportacao-de-carne-para-europa-corresponde-por-3-do-que-o-brasil-vende>

Exame – Informações sobre o volume de carne bovina exportado do Brasil para a França e outros países da União Europeia. Disponível em: <https://exame.com/agro/caso-carrefour-franca-e-destino-de-so-00047-da-exportacao-de-carne-do-brasil/>

Governo Federal do Brasil (Gov.br) – Diretrizes sobre a sustentabilidade do agronegócio brasileiro, incluindo o Código Florestal e práticas inovadoras como ILPF. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/publicacoes-diversas/diretrizes-para-o-desenvolvimento-sustentavel-da-agropecuaria-brasileira.pdf>

FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) – Dados gerais sobre o Brasil como líder global em exportação de carne bovina e sua relevância para a segurança alimentar mundial. Disponível em: <https://www.fao.org/home/en/>

Relatórios de Sustentabilidade do Agronegócio Brasileiro – Informações sobre as práticas ambientais e tecnológicas de ponta no setor.

Fonte da imagem: Freepik

 

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