Conhecimento que Transforma
a Segurança dos Alimentos!
Juntos, semeamos conhecimento para colher um futuro mais seguro
Nos últimos dias, uma campanha publicitária da NotCo reacendeu um debate necessário: é possível inovar na indústria de alimentos sem desrespeitar os pilares já consolidados da cadeia produtiva? A ação da marca, que resgatou a memória afetiva dos icônicos bichinhos da Parmalat para “lacrar” contra o leite de vaca, acabou escorregando feio ao confundir irreverência com desrespeito.
Antes de qualquer coisa, é fundamental entender o que é, de fato, leite. Segundo o RIISPOA (Decreto nº 9.013/2017), leite é definido como:
“Produto integral proveniente da ordenha total e ininterrupta de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas, isento de colostro, obtido e conservado em condições higiênicas.”
É importante destacar que, segundo a legislação brasileira, a denominação “leite” é exclusiva para o produto de origem animal, como vimos acima. Assim, bebidas obtidas a partir de vegetais — como soja, aveia, amêndoas ou coco — não deveriam ser chamadas de leite, pois não possuem a mesma composição nutricional, processo produtivo ou função na alimentação. Utilizar o termo “leite” em produtos vegetais pode induzir o consumidor ao erro, criando falsas equivalências nutricionais e desrespeitando normas de rotulagem e transparência previstas na legislação brasileira e também em práticas internacionais de regulação de alimentos.
A ingestão diária recomendada (IDR) de diversos nutrientes essenciais pode ser parcialmente coberta por apenas dois copos de leite (aproximadamente 480 mL). Essa quantidade fornece cerca de 55% da IDR de cálcio, além de boas quantidades de proteína, potássio, vitaminas A e D. No entanto, ainda há deficiência em ferro e vitamina C, pois esses nutrientes estão quase ausentes no leite de vaca.
Ou seja, dois copos de leite são suficientes para atender à maioria das necessidades diárias de cálcio, proteínas e vitaminas lipossolúveis, mas é importante complementar com fontes de ferro (como carnes, leguminosas e vegetais verdes) e vitamina C (como frutas cítricas) para uma dieta equilibrada.
Isso reforça que o leite de vaca não é um vilão. Pelo contrário, é um dos alimentos mais completos do ponto de vista nutricional, amplamente consumido em todo o Brasil e presente na mesa de milhares de famílias.
Quando uma marca decide atacar o leite para promover uma alternativa vegetal, não atinge apenas um produto – mas toda uma cadeia econômica, social e cultural.
Reduzir tudo isso a uma caricatura de “vilania” é mais do que injusto. É contraproducente e desrespeitoso com quem acorda cedo todos os dias para alimentar o país.
Sim, o consumidor moderno busca alternativas: produtos mais sustentáveis, vegetais, éticos e funcionais. Mas isso não significa que seja preciso desmerecer ou demonizar o que já existe. Campanhas comparativas são legítimas – desde que baseadas em dados, responsabilidade e respeito.
A inovação real não lacra. Ela inspira, constrói pontes e promove diálogo. O marketing pode (e deve) ser criativo, ousado e disruptivo – mas não à custa de quem trabalha com dignidade no campo, garantindo o alimento que chega à nossa mesa.
Respeitar a tradição não significa recusar a inovação. Significa apenas reconhecer que, antes de desconstruir, é preciso compreender.
O mundo precisa de mudanças, sim. Mas elas precisam ser éticas, inclusivas e conscientes. Marcas que querem liderar essa transformação devem entender que sustentabilidade também passa por valorizar quem já produz com responsabilidade.
Campanhas agressivas e divisivas não constroem um futuro melhor. Pelo contrário, geram polarização, desinformação e afastam o consumidor de um debate saudável.