Conhecimento que Transforma
a Segurança dos Alimentos!
Juntos, semeamos conhecimento para colher um futuro mais seguro
Os diagnósticos de alergias e intolerâncias alimentares seguem crescendo no Brasil e no mundo. Mais do que um incômodo à mesa, essas condições representam um verdadeiro desafio diário para milhões de pessoas, com impactos que vão muito além da alimentação. Neste texto, exploramos os principais obstáculos enfrentados por quem convive com essas condições e o que ainda falta avançar em políticas públicas, acesso à saúde e conscientização social.
Uma das maiores barreiras para quem suspeita de alergia alimentar é o diagnóstico preciso. Muitas pessoas recorrem a testes rápidos, autorrelatos ou até eliminam alimentos por conta própria, o que pode gerar falsos diagnósticos e restrições alimentares desnecessárias. O padrão ouro para confirmar uma alergia é o Teste de Provocação Oral (TPO), realizado com acompanhamento médico. No entanto, esse exame ainda não é amplamente disponível no SUS e nem sempre é oferecido pelos planos de saúde.
Essa dificuldade no acesso compromete o tratamento e o bem-estar do paciente, atrasando a adoção de medidas eficazes de prevenção e controle.
Quem convive com alergias severas precisa ter acesso imediato à adrenalina autoinjetável, o único medicamento capaz de reverter uma anafilaxia — uma reação alérgica grave que pode levar à morte em minutos. No entanto, no Brasil, essa caneta injetável ainda é cara, importada e fora da rede pública de saúde.
Existem projetos de lei em tramitação para garantir o fornecimento gratuito pelo SUS, mas, até o momento, não há uma política nacional efetiva que garanta esse direito aos pacientes.
Mesmo que as pessoas evitem os alimentos aos quais são alérgicas, muitas pessoas continuam expostas ao risco de ingestão acidental de traços do alérgeno, seja em ambientes domésticos, restaurantes ou até em alimentos industrializados. A contaminação cruzada é uma ameaça real e exige cuidado extremo com o preparo e o manuseio dos alimentos.
Embora o Brasil tenha avançado com a RDC nº 727/2022 da Anvisa, que determina a rotulagem obrigatória de alergênicos, muitos rótulos ainda usam a expressão “pode conter” de forma genérica, sem um controle claro. Isso gera insegurança e reduz significativamente as opções de alimentos para quem depende dessa informação para se alimentar com segurança.
Se a indústria de alimentos ainda usa o termo “Pode conter” ao invés de implementar práticas que evitem a contaminação cruzada, os serviços de alimentação ainda estão muito distantes de implementar um programa mínimo de gerenciamento de alergênicos nas cozinhas e isso limita consideravelmente a possibilidade de muitas pessoas se alimentarem fora de casa.
Conviver com uma condição alimentar restritiva não afeta apenas a saúde física, mas também o emocional e o social. Crianças com alergias muitas vezes enfrentam exclusão na escola, restrições em festas de aniversário e até casos de bullying. Já os adultos relatam altos níveis de ansiedade, medo e insegurança em situações simples do cotidiano, como comer fora de casa ou viajar.
Estudos recentes mostram que cerca de 2 em cada 3 adultos alérgicos sofrem psicologicamente com sua condição, mas menos de 20% recebem algum tipo de apoio emocional ou psicológico.
A escola, que deveria ser um ambiente seguro, ainda representa um grande risco para crianças alérgicas. Muitos professores e funcionários não estão preparados para lidar com uma reação alérgica grave e sequer sabem usar um autoinjetor de adrenalina. Além disso, ainda há resistência na adaptação de cardápios ou espaços para garantir segurança e muitas vezes este tema é tratado como “frescura ou chatice” por pessoas que não sabem o que é de fato conviver com essa limitação.
O mesmo vale para restaurantes, eventos públicos e até hospitais — locais onde muitas vezes não há estrutura ou preparo adequado para atender uma emergência alérgica.
Alimentos sem lactose, sem glúten ou sem traços de alérgenos costumam ter preços significativamente mais altos do que seus equivalentes tradicionais. Isso impõe uma barreira econômica para muitas famílias, tornando o tratamento nutricionalmente adequado um privilégio de poucos. Além disso, terapias mais recentes, como a dessensibilização oral e o uso de medicamentos biológicos, ainda têm custo elevado e acesso restrito no Brasil.
Crescimento das alergias e limitação de tratamento
A prevalência de alergias alimentares dobrou na última década, tanto no Brasil quanto no mundo.
O estilo de vida ocidental, uso de antibióticos, alimentação ultraprocessada e falta de exposição ao ar livre (e, consequentemente, baixo nível de vitamina D) estão relacionados ao aumento de alergias.
Isso significa que não há um panorama de redução destes números e que precisamos olhar para estas pessoas, para este publico que necessita de cuidado, respeito e uma maior facilidade para acessar alimentos que possam consumir de forma segura.
O que podemos fazer?
O caminho para enfrentar esses desafios exige ações integradas:
Mais do que uma condição médica, a alergia alimentar é uma questão de saúde pública, inclusão social e dignidade humana. É preciso olhar com mais empatia e compromisso para quem vive essa realidade todos os dias.
Referências: