Food ingredient. Onion on the table

E. coli O157 na cebola?

Por: Keli Lima Neves

 

E. coli O157 na cebola?

Estamos acompanhando o caso de contaminação com E. coli O157 associada ao hamburguer Quarter Pounders do McDonald’s nos EUA e a principal suspeita é que a cebola fresca utilizada no hamburguer seja a fonte da contaminação.

De acordo com o FDA, enquanto a investigação está em andamento, a Taylor Farms, fornecedora de cebolas em tiras para os estabelecimentos afetados do McDonald’s, iniciou um recall voluntário. Cebolas amarelas recolhidas foram vendidas a clientes adicionais do serviço de alimentação. Os clientes que receberam cebolas recolhidas foram notificados diretamente sobre o recall.

 

Infelizmente esse não é o primeiro caso de pessoas doentes ou que perderam a vida por ingerirem alimentos contaminados com a E. coli O157.

 

A bactéria Escherichia coli O157

(ou simplesmente E. coli O157) é um dos patógenos mais temidos quando o assunto é contaminação de alimentos. Embora muitas cepas de E. coli sejam inofensivas e até benéficas para o intestino humano, a variante O157 é uma das principais causadoras de doenças graves, que podem variar de diarreias intensas a condições como a síndrome hemolítico-urêmica (SHU), que pode levar a insuficiência renal e até a óbito, especialmente em crianças e idosos.

Na sequência, estão alguns exemplos notáveis de surtos de E. coli O157 em diferentes países ao longo das últimas décadas.

 

Contaminação de Alimentos por E. coli O157: Casos e Exemplos em Diferentes Países ao Longo dos Anos

 

Estados Unidos – Carne Moída Contaminada (1993) – Jack in the Box

 O surto de 1993 nos Estados Unidos, relacionado a carne moída contaminada da rede de fast-food Jack in the Box, foi um dos primeiros surtos de E. coli O157 a ganhar atenção nacional. O caso envolveu mais de 700 pessoas infectadas, principalmente crianças, em quatro estados. A carne contaminada não foi devidamente cozida, permitindo que a bactéria sobrevivesse e causasse o surto. Como resultado, quatro crianças faleceram, e o caso levou à reformulação das regulamentações de segurança dos alimentos nos Estados Unidos.

 

Alemanha – Brotos Contaminados (2011)

Difícil não lembrar deste caso que percorreu os noticiários do mundo todo, mostrando as toneladas de legumes e verduras sendo desperdiçados na Europa, enquanto não se descobria a origem da contaminação.

Esse surto ocorreu na Alemanha em 2011, mas, desta vez, o alimento envolvido foi inesperado: brotos de feijão. Esse caso se destacou não apenas pela gravidade, com mais de 3.000 casos confirmados e 50 mortes, mas também pela cepa da bactéria envolvida, que era uma combinação rara de E. coli O157 e outras variantes. O surto evidenciou a complexidade de rastrear alimentos contaminados, já que brotos geralmente são consumidos crus e têm um ciclo de cultivo rápido. Essa contaminação demonstrou a fragilidade da cadeia de alimentos, principalmente no que se refere a velocidade para rastreabilidade.

 

Canadá – Alface Romana

O Canadá enfrentou um surto ligado ao consumo de alface romana contaminada com E. coli O157. Esse surto foi associado a produtores da Califórnia, nos Estados Unidos, e resultou em mais de 40 casos de infecção. As autoridades recomendaram que a população evitasse o consumo de alface romana enquanto as investigações estavam em andamento. Esse surto demonstrou a facilidade de contaminação em produtos frescos e ressaltou a importância de uma rastreabilidade rigorosa na cadeia de suprimentos.

 

Japão – Carne Crua (Yukhoe) Contaminada (2011)

No Japão, em 2011, um surto de E. coli O157 ocorreu entre consumidores de carne crua conhecida como Yukhoe, prato tradicional similar ao steak tartare. O surto resultou em cinco mortes e mais de 100 pessoas hospitalizadas. Investigações revelaram que o estabelecimento envolvido não seguiu procedimentos rigorosos de higiene, o que facilitou a contaminação da carne crua. O caso levou o governo japonês a implementar novas regulamentações sobre o consumo de carnes cruas e melhorar as práticas de segurança dos alimentos no setor.

 

 Reino Unido – Produtos Lácteos (1996)

Em 1996, o Reino Unido enfrentou um dos maiores surtos de E. coli O157, associado ao consumo de produtos lácteos não pasteurizados. Mais de 500 pessoas foram afetadas, e 20 perderam a vida. O surto originou-se em uma fazenda que produzia leite cru, e a contaminação foi rastreada até o equipamento de processamento. Este caso resultou em mudanças nas regulamentações de pasteurização e no aumento da conscientização sobre os riscos associados ao consumo de produtos lácteos não pasteurizados.

 

Estados Unidos – Saladas Embaladas (2020)

Em 2020, foram relatados nos EUA, alguns episódios em situações diferentes de pessoas  que foram infectadas por E. coli O157 após consumirem saladas embaladas vendidas em grandes redes de supermercados. Esses produtos prontos para consumo continham folhas verdes que estavam contaminadas. A origem do problema foi rastreada até a área de cultivo das hortaliças, destacando a importância da sanitização e do controle da água utilizada na irrigação, bem como a necessidade de reavaliarmos as Boas Práticas de Fabricação para alimentos minimamente processados.

 

Espanha – Carne Moída (2023): Em 2023, a Espanha enfrentou um surto causado por E. coli O157 em carne moída distribuída por uma grande rede de supermercados. Vários casos de infecção foram relatados, levando a recalls de produtos e a um exame rigoroso das condições de processamento da carne. A investigação revelou falhas no controle de temperatura durante a moagem, resultando na sobrevivência da bactéria.

 

A Taco Bell, a divisão da Yum Brands Inc., ordenou em dezembro de 2006 a remoção de cebolinhas de seus 5.800 restaurantes em todo o país depois que amostras coletadas pelos investigadores pareciam conter E. coli. O surto deixou pelo menos 71 pessoas doentes em Delaware, Nova Jersey, Nova York e Pensilvânia. Oito pessoas desenvolveram um tipo de insuficiência renal chamada síndrome hemolítico-urêmica.

 

Esses são apenas alguns exemplos, muitos outros casos ed Recall voluntário e não voluntário para diferentes tipos de produtos podem ser verificados nos sites das autoridades de cada país.

Intervenções no abate, controle de temperaturas no processo de fabricação, e aumento de temperaturas e tempos de cozimento ajudaram a reduzir os casos de contaminação envolvendo produtos cárneos. Mas a E. coli O157 agora encontrou seu caminho em alimentos tão variados quanto cebola, espinafre, alface, massa de biscoito, suco de maçã e queijo e tem se tornado um problema cada vez maior.

 

Medidas de Controle e Prevenção Globais

Os surtos mencionados refletem o quanto a contaminação por E. coli O157 pode ser perigosa e imprevisível, afetando uma ampla variedade de alimentos e modos de consumo. Para prevenir esses casos, as autoridades de saúde em todo o mundo recomendam práticas rigorosas de higiene e segurança, como:

Cozimento Completo da Carne: Alimentos de origem animal, especialmente carne moída, devem ser cozidos a temperaturas adequadas para eliminar E. coli.

Lavagem de Produtos Frescos: Vegetais e frutas devem ser bem lavados, e alface e outras folhas frescas devem ser sanitizadas antes do consumo.

Uso de Água Tratada e Fertilizantes Seguros: Especialmente na agricultura de produtos consumidos crus, é essencial utilizar água potável e fertilizantes seguros para evitar a contaminação.

Pasteurização de Produtos Lácteos: O leite e outros produtos lácteos devem ser pasteurizados para eliminar possíveis agentes patogênicos.

Educação e Treinamento: Profissionais do setor alimentício devem ser treinados para seguir as práticas de higiene e manuseio seguro de alimentos.

Boas Práticas de fabricação e APPCC: as Boas Práticas de Fabricação devem ser implementadas de forma eficiente, os colaboradores precisam entender e atender as diretrizes da empresa e estas praticas devem ser monitoradas.

Aprovação de fornecedores: é necessário que as empresas tenham processos de aprovação de fornecedores elaborado a partir de uma análise de risco. Quando o fornecedor é responsável por garantir a segurança do insumo que estou adquirindo, ou seja, quando não há uma forma na minha produção, para reduzir ou eliminar os perigos associadas a referida matéria prima, então, cabe ao fornecedor garantir e segurança, ou seja, minha forma de controle do perigo passa a ser evitar a entrada dele e isso requer que os fornecedores sejam avaliados de forma mais rigorosa e um relacionamento de confiança ainda mais íntimo deve ser estabelecido.

Rastreabilidade e Controle de Fornecedores: A rastreabilidade é essencial para identificar fontes de contaminação rapidamente.

 

A contaminação por E. coli O157 continua sendo um desafio global para a saúde pública e a segurança alimentar. Casos como os mencionados destacam a importância de uma cadeia de suprimentos vigilante e de práticas de consumo seguras para prevenir surtos futuros.

Fonte da imagem: Freepik

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