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Por: Henrique de Castro Neves
Para quem ouve ou lê o acrônimo ESG recentemente, parece tratar de algo novo e encantador, quando explicado soa quase como um acróstico, contudo, a abordagem de estratégias sustentáveis, focadas em pessoas, planeta e lucros não é algo tão novo assim, pois apareceu, na verdade há 28 anos atrás. Aliás, muitas empresas do agronegócio dispõem de processos que espelham o estado da arte das boas práticas de governanças ambiental, social e corporativa.
A sigla ESG (do inglês Environment, Social and corporate Governance) ou em português ASG (Governanças Ambiental, Social e corporativa) entrou de vez no vocabulário do universo corporativo no início de 2022, após Larry Fink – Presidente e CEO do maior fundo de private equity do mundo, a Black Rock – em sua carta anual aberta aos CEOs de todo o mundo, destacar que foi apresentado aos clientes da empresa que a estratégia de investimentos da companhia terá “a sustentabilidade no coração” dos planos da organização. No documento há uma série de relatos das preocupações do banco, justificando os porquês de o conceito estar formalmente no centro da estratégia, a partir de agora. Mas, como já provocado no primeiro parágrafo, este conceito não surgiu no pós-pandemia!
Ainda no início da década de 90, mais precisamente em 1994, o britânico John Elkington propôs o que ficou conhecido em português, como Tripé da Sustentabilidade (em inglês, Triple Bottom Line). Em um artigo intitulado O Tripé da Sustentabilidade: o que é e como funciona? (título original, em inglês, The Triple Bottom Line: what is it and how does it work?), o autor, que atua como consultor e também é empresário, detalha a importância e a relevância da aplicação de três Ps (People, Planet and Profit, traduzindo, Pessoas, Planeta e Lucros), estimulando que as empresas buscassem sucesso nestas três bases, como forma de garantir a sustentabilidade como um motor de suas estratégias e ações.
Duas décadas depois da proposta de Elkington, em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs aos seus países membros uma nova agenda para o desenvolvimento sustentável e inclusivo para os quinze anos vindouros, a partir desta iniciativa nasceu a Agenda 2030, composta pelos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS). As ambiciosas e interconectadas ações envolvem os principais desafios enfrentados pelo mundo para se desenvolver reduzindo a pobreza, protegendo o meio ambiente e o clima.
Três décadas depois, o tema ressurge repaginado e turbinado pelo capitalismo, quase como uma inovação da moda contemporânea. O fato é que desde a década de 90, inúmeras empresas desprenderam esforços para colocar em prática o tripé da sustentabilidade, com implementação de ações socioambientais e de governança corporativa que atualmente são considerados referências (benchmarking) para todo o mercado. Especialmente companhias ligadas ao agronegócio, onde a manutenção da relação com a natureza é um fator crítico de sucesso para alcançar os objetivos operacionais e financeiros isso se tornou algo orgânico.
Como as indústrias de alimentos estão inseridas no agronegócio, muitas delas tem fortes ligações com práticas de ESG, não necessariamente conseguindo abranger de forma sistêmica sua governança para as três áreas-alvo do conceito. Em geral pequenas e médias empresas de diferentes segmentos têm muita dificuldade em adotar boas práticas de governança, mas a depender da área de atuação, como é o caso de fabricantes de alimentos e bebidas, o setor é muito regulado e as organizações precisam estar conformes com uma série de atividades para garantir seu funcionamento.
Muito além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) ou Ministério da Saúde (em geral representado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – na fiscalização das empresas), as atividades industriais no Brasil requerem estar conformes com inúmeras normas e requisitos que abrangem questões trabalhistas, fiscais e ambientais. Isto posto, a relação entre o que é feito meramente por obrigação e aquilo que é realizado para alcançar objetivos maiores deve se tornar o grande diferencial das boas práticas de ESG que veremos ser colocadas em prática.
Durante o segundo trimestre de 2022, a empresa Sondeo Expansión divulgou um estudo mostrando que sete grandes marcas da indústria de alimentos, que atuaram com expressivas ações sociais e ambientais entre o segundo trimestre de 2020 até o primeiro trimestre de 2022 realizaram recorrentes aumentos de preços ao varejo, muitos deles acima da inflação do período. As únicas exceções, foram duas companhias (uma de laticínios e a outra de bebidas não alcóolicas) que ao longo de 2020 reduziram seus preços, deixando os incrementos para 2021 adiante. Portanto, tudo indica que a busca pelo balanço entre as ações sociais, ambientais e de governança corporativa e a lucratividade ainda deve ir longe a ponto de tornar algo nativo.
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